O Viva Rio marcou presença em uma audiência pública sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), realizada na Câmara Municipal de Vereadores de São Gonçalo, município do Rio de Janeiro, nessa quinta-feira (13). A nutricionista Andressa Louzada, 42 anos, que é autista e trabalha em uma das unidades básicas de saúde administradas pela instituição, foi convidada a compor a mesa e contribuir na discussão.
A audiência foi presidida pelo vereador Felipe Guarany e contou com a presença de representantes de secretarias do município, vereadores, organizações não governamentais, pais de autistas e cidadãos gonçalenses. Segundo o vereador responsável, o objetivo foi aprender mais sobre o TEA, ouvir a população e pensar formas de apoiar pessoas autistas através de políticas públicas.
Andressa Louzada, formada em Nutrição pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalha no Centro Municipal de Saúde Heitor Beltrão, na Tijuca, há cerca de 6 meses. O convite para participar da mesa da audiência pública veio através da ONG TEAcolher, de São Gonçalo, que atuou na organização do evento. A instituição ajudou a nutricionista a se inserir no mercado de trabalho.
“Uma das preocupações de pais de autistas é o comportamento e desenvolvimento do filho quando for adulto. Eu fui chamada para mostrar, através das minhas vivências, que o autista pode ter sua vida profissional e pode seguir sua história, desde que tenha amparo e tratamento adequado”, conta.
Entre os vários assuntos abordados, Andressa reforçou a importância de pensar políticas públicas para autista adultos, e não apenas para crianças. “Como o autista tem rotinas fixas, que são importantes para garantir sua segurança e bem-estar, quando chega à vida adulta, tem que enfrentar uma nova rotina, que é o mercado de trabalho. É um desafio, então é importante prepará-lo para as novas vivências dessa fase. Os autistas adultos precisam de suporte e acompanhamento especializado”, enfatiza.
A equipe do Viva Rio Eficiente também esteve presente. Renato Freitas, coordenador do programa, teve oportunidade de falar durante a audiência. “Falei sobre empregabilidade para pessoas com deficiência e autistas. Conversei com vários vereadores e coordenadores de centros de reabilitação e estamos estudando parcerias”, conta Renato.
Conheça a história de Andressa e a descoberta do autismo
Andressa foi diagnosticada com grau 1 de autismo (leve, sem comprometimento intelectual) quando já era adulta, há aproximadamente quatro anos. A descoberta ocorreu após a doença de sua mãe, que teve um tumor cerebral. O adoecimento da mãe levou Andressa a realizar exame preventivo cerebral e avaliações com diferentes profissionais.
“Na consulta com a neurologista, ela perguntou sobre diversos aspectos da minha vida, desde a minha infância. Também fez o exame e constatou uma alteração. Fui encaminhada para o psiquiatra e neuropsicólogo. Após dois meses de avaliações neuropsicológicas, testes e entrevistas com pessoas que me conhecem, recebi meu diagnóstico de autista”, conta.
Para ela, foi um alívio finalmente compreender a si mesma. “Foi libertador porque tudo passou a fazer sentido. Entendi o motivo da minha dificuldade em relações sociais, meus padrões de comportamento, o meu gosto por rotina e os transtornos que os imprevistos me trazem, por exemplo. O laudo me trouxe libertação e me possibilitou buscar ajuda especializada para quem eu sou”, relata a nutricionista.
Fixação por rotinas, padrões restritos de comportamento, hiperfoco em determinados assuntos, estereotipia, como mexer nas mãos, e dificuldade com interações e convenções sociais são algumas das características que Andressa aponta em si mesma. “Se eu for convidada para uma festa, sei que ao final tenho que dar um ‘tchau’ coletivo para me despedir, não posso simplesmente sair, como eu fazia. Mas aprendi isso copiando os comportamentos socialmente aceitáveis para me inserir na sociedade”.
O primeiro emprego de Andressa, após formada, foi no CMS Heitor Beltrão, através do Viva Rio Eficiente. Ela relata que as dificuldades dos autistas no mercado de trabalho começam nas entrevistas. “Não sabia me comportar nas entrevistas, além de ser literal e ter dificuldade com alguns tipos de perguntas. Em uma das vagas que me candidatei, o profissional que me entrevistou não me viu como autista porque ele tinha em mente só o grau severo do autismo, ele não sabia que há graus de intensidade”, lembra.
Andressa Louzada atualmente faz especialização em Saúde Pública e se sente realizada pela oportunidade de exercer sua profissão. “Sou apaixonada pelo que faço. Nunca pensei em atuar na Saúde Pública, mas hoje amo. Tenho minhas limitações, mas consigo contorná-las com o acompanhamento psicológico que faço”, finaliza.